Citando veto a brincos em CTGs, conselho nega verba pública a evento tradicionalista

Candidatos preparam churrasco no Entrevero de Peões — Foto: Mauro Heinrich

Um parecer assinado pelo conselheiro Dael Rodrigues nega financiamento de R$ 85 mil pela Lei de Incentivo à Cultura ao Entrevero Cultural de Peões, que acontece em Rio Grande, no mês de abril. Promovido pelo MTG, o concurso tem por objetivo escolher o Piá, Guri e Peão Farroupilha do estado. Entre os argumentos, Dael diz que o evento é excludente, uma vez que veda a participação de candidatos casados ou que tenham filhos. Também cita o veto ao uso de brincos nos centros da tradições.

No resumo apresentado à LIC, o MTG afirma que “o concurso começa com a preparação destes jovens desde a entidade (CTG) de sua origem, onde aprendem sobre a história, a Tradição, o folclore gaúcho, os usos e costumes de nosso estado. E apresentam as suas habilidades que lembram, em muito, o autêntico homem sul-riograndense, com realização de provas escritas e práticas onde demonstram seus conhecimentos sobre artes gaúchas e lida campeira”. Ou seja, um evento eminentemente cultural.

Em seu parecer aprovado pela maioria dos demais conselheiros, o conselheiro faz críticas aos centros de tradições, que adotariam parâmetros intolerantes e discriminatórios. “Se uma determinada entidade particular se estrutura sob um determinado viés ideológico e moral, devemos respeitar sempre. Mas, a mesma busca de financiamento público deverá necessariamente se adequar às normas republicanas, democráticas e de inclusão”, escreveu.

Sobre o veto a candidatos casados ou que tenham filhos no concurso de peões, o conselheiro entende que “se imiscuir em seara particular de jovens, para permitir o acesso ou não e participação dos mesmos no evento, que busca patrocínio da LIC, é inaceitável”. E finaliza:

“Não sabemos de nenhuma manifestação popular no Brasil que impeça cidadãos de participarem por questões de estado civil, paternidade, adereços, tatuagens ou brincos. Salientamos que anos atrás, no carnaval do Rio de janeiro, a maior manifestação cultural do Brasil, vimos uma porta bandeira grávida desfilando e maravilhando o país (…). Seria um desproposito e uma inconstitucionalidade, agravado se o evento fosse financiado com erário público!”.O presidente do MTG, Nairo Callegaro, entende as manifestações do conselheiro como “preconceituosas” em relação ao movimento tradicionalista. Conforme ele, não existe qualquer tipo de discriminação nos galpões, que apenas seguem regras como em qualquer clube ou federação. Quanto às normas do entrevero de peões, diz que os participantes são “jovens que representam a juventude, e não, as famílias”.

Em reunião realizada no dia 21 de fevereiro, na qual os conselheiros avaliaram, coletivamente, quais projetos merecem recursos da lei, foi aprovada a captação de patrocínios para eventos sobre jazz, cinema, teatro e até feiras de chocolates e suínos. Na lista de 20 atividades para as quais foram liberados R$ 3 milhões, há dois rodeios e um festival nativista.

Informado da decisão pelo blog, o deputado estadual eleito pelo PDT e representante do segmento na Assembleia Legislativa, o cantor Luiz Marenco ficou revoltado com a postura do conselho, órgão no qual afirma existir “obscuridade” nos critérios de composição. “Não nos parece adequado que o mérito dos projetos seja avaliado por pessoas que não entendam as suas peculiaridades e de seu contexto. Nem sempre concordei com todas as regras do MTG, mas a exemplo de outros tantos concursos, esse tem regras que fazem sentido para a comunidade e o ambiente ao qual se dirige. Nem sempre é possível aplicar preceitos universais quando se trata de tradição”, afirma.

No entender do cantor e político, situações como essa reacendem discussões sobre “distorções” da Lei de Incentivo bem como a composição do colegiado. “Em breve procurarei a Secretária (da Cultura) Beatriz para travar um diálogo e ver como podemos aprimorar o sistema de maneira a garantir que projetos sejam avaliados em seu mérito da forma mais justa possível”, finaliza o deputado.

G1