Polícia Civil executa operação conjunta no RS, SC e SP e desmantela grupo criminoso que lesou centenas de vítimas com um sistema de falsos investimentos

Divulgação/PC

Grupo manteve célula em Santo Antônio das Missões. Esquema fraudulento usava aplicativos bem elaborados para smartphones e golpistas prometiam oportunidades de investimentos altamente lucrativas

Na manhã desta quarta-feira, 12 de julho, em operação policial coordenada pela Draco de São Luiz Gonzaga, cerca de 150 policiais civis executam 11 mandados de prisão temporária, 21 mandados de busca e apreensão residencial, 19 mandados de busca e apreensão de veículos, bloqueio em contas bancárias de 11 pessoas físicas e três pessoas jurídicas, além do bloqueio de imóveis de 11 pessoas físicas e três pessoas jurídicas.

Receba nossas notícias pelo WhatsApp

A operação policial conta com a participação de policiais da Delegacia de Polícia de Santo Antônio das Missões, Draco de Bagé, Draco de Passo Fundo, Draco de Santiago, Delegacia de Polícia de Três Passos e de agentes de inteligência do Departamento de Polícia do interior (DPI). Em SC a ação é apoiada pela Delegacia Regional da Polícia Civil de Balneário Camboriú e em SP o DEIC da Polícia Civil.

As ordens judiciais estão sendo executadas simultaneamente nos estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em Santa Catarina, local onde a maior parte do grupo criminoso reside, a Draco cumpre mandados nas cidades de Tijucas, Porto Belo, Balneário Camboriú, São Lourenço do Oeste e Itapema. No RS os mandados concentram-se na cidade de Santo Antônio das Missões, onde o grupo criminoso centralizou as suas atividades por alguns meses, lesando centenas de pessoas. Há mandados ainda sendo executados em três endereços na cidade de São Paulo, onde um dos integrantes do grupo criminoso reside.

Entenda o golpe:

Segundo o Delegado Heleno dos Santos, titular da Draco de São Luiz Gonzaga, e o Delegado Gerson de Assis, titular da Delegacia de Polícia de Santo Antônio das Missões, várias vítimas procuraram a Polícia Civil reclamando de uma empresa que prometia investimentos no mercado de ações com a promessa de altos ganhos. As vítimas foram atraídas a integrarem grupos virtuais de “investimentos financeiros” muito lucrativos, geridos a partir de uma (duvidosa) plataforma digital de investimentos on-line, denominada “GÊNESIS.VET” (Genesis Finance Limited), nome “copiado” em parte de uma empresa do ramo financeiro denominada “Gênesis Investimentos”, que não tem relação nenhuma com a investigação, sendo uma empresa regular no ramo de investimentos.

O golpe começava a partir do momento em que a vítima era convidada a fazer o upload do aplicativo “Genesis.vet” para o seu smartphone, cadastrando em seguida os seus dados pessoais, anexando diversos documentos pessoais.

Na sequência, a vítima acabava recebendo um link para aderir a grupos de WhatsApp – grupos denominados “Águia”, “Águia Vip” e “New Invest” – onde recebiam orientações de como investir, havendo especial “pressão” para investirem rapidamente, assim que os consultores (golpistas) recebiam informações (privilegiadas) de momentos ideais (e geralmente curtos) para investimentos altamente rentáveis.

De acordo com os Delegados Heleno e Gérson, os golpistas mesclavam o uso de aplicativos legítimos com o uso de aplicativo falsos. Havia o uso regular de aplicativos para a conversão de moeda estrangeira, por exemplo, culminando com a transferência de quantias variadas em dinheiro para os criminosos, via PIX, TED ou boletos, todos gerados a partir de uma plataforma também regular, tudo de modo a parecer que as transações eram feitas sempre a partir de sites e aplicativos seguros. O golpe era consumado quando as vítimas usavam os códigos PIX e boletos acreditando que estavam realmente fazendo investimentos, quando, na verdade, estavam transferindo os valores diretamente para as contas dos criminosos ou das empresas por eles criadas. Há indicativos de que grande parte do dinheiro era depositado em contas localizadas no exterior.

Golpistas “pareciam” corretores e usavam linguajar técnico:

Apesar de não terem nenhuma formação na área financeira, os golpistas geralmente se utilizavam de linguagem técnica normalmente utilizada por corretores de investimentos e consultores financeiros, sempre aparecendo em vídeos e imagens postadas nos grupos de WhatsApp como figuras bem-sucedidas, enaltecendo os retornos financeiros excepcionais e rápidos da plataforma “Genesis”, algumas vezes exibindo veículos e bens variados supostamente adquiridos com os altos e falsos retornos – o dinheiro usado para a compra dos bens pelos golpistas, na verdade, era o dinheiro das próprias vítimas.

Nos grupos de WhatsApp, os golpistas usavam de táticas persuasivas, com promessas de lucros garantidos, oportunidades exclusivas e supostas informações privilegiadas de oportunidades altamente rentáveis. As oportunidades para investimentos geralmente “apareciam do nada” e o prazo para fazer as transferências sempre era curto.

Ao que tudo indica, os criminosos criaram pelo menos três empresas de fachada para o desvio do dinheiro obtido das vítimas. Os golpistas ainda criavam sites falsos – geralmente em provedores do exterior – que parecem legítimos, para onde as vítimas eram atraídas com promessas de altos ganhos.

Os golpistas ainda criaram uma pessoa fictícia (Kelly), a quem se referiam no grupo de WhatsApp como sendo a chefe da empresa “Genesis.vet”. Em mensagens e áudios postados no grupos de WhatsApp, os golpistas investigados agradeciam a Kelly pelos altos retornos obtidos e bens adquiridos.

Algumas vítimas, recentemente, perceberam o golpe, questionando um dos chefes do esquema criminoso. Em áudio postado num grupo de WhatsApp, um dos chefes do esquema explica (usando expressões técnicas de corretor) que a empresa Genesis.vet estaria ingressando no mercado de ações, sendo que estava em fase de abertura de capital, com explicações tecnicamente bem elaboradas, justificando a impossibilidade de saques pelos investidores/vítimas com o fato de a empresa “estar sendo objeto de auditoria”, procedimento que seria comum nos casos de empresas que se abrem para o mercado de ações.

Golpistas ostentavam em redes sociais

Os criminosos investigados ostentavam aquisições de bens – principalmente veículos – em grupos de investimentos e redes sociais, sempre com o objetivo de convencer mais pessoas a aderirem ao programa fraudulento de investimentos que operavam. Muitas vezes os golpistas ainda alugaram luxuosas salas comerciais e de reuniões, simulando reuniões de trabalho, de modo a conferir maior credibilidade ao golpe.

As postagens feitas pelos criminosos auxiliaram a Polícia Civil na identificação de bens e criminosos.

Investigação rápida pela Polícia Civil e preocupação com o ressarcimento das vítimas:

Tão logo foi informada dos crimes ocorridos em Santo Antônio das Missões, a Polícia Civil, por intermédio da Draco de São Luiz Gonzaga e Delegacia de Polícia de Santo Antônio das Missões, em trabalho integrado, instauraram investigação policial e iniciaram as apurações, identificando em poucos dias 11 dos principais integrantes do grupo criminoso. Além da identificação dos criminosos, as investigações também se concentraram na identificação do patrimônio obtido pelos golpistas com o dinheiro desviado das vítimas e o bloqueio das contas bancárias e imóveis adquiridos pelos criminosos. Tais medidas, segundo destaca o Delegado Heleno, tem por objetivo propiciar que as vítimas busquem o ressarcimento pelos danos sofridos.

– A Polícia Civil estima que o grupo criminoso tenha lesado mais de quatro mil vítimas nos estados do RS, SC e SP, causando prejuízos que superam a cifra dos 20 milhões de reais.
– Até o momento, apurou-se que os criminosos converteram cerca de 2 milhões de reais desviados das vítimas em veículos automotores, sendo que 19 desses veículos são objetos de busca e apreensão pela Polícia Civil.

Vítimas evitam procurar a Polícia Civil:

Os Delegados Heleno e Gerson perceberam que a grande parte das vítimas sente medo ou até vergonha de procurar a Polícia Civil. Com a prisão e publicidade do caso policial, acreditam os Delegados que as vítimas se sentirão mais confiantes e a tendência é de que os registros policiais aumentem.

Cerca de pouco mais de 50 vítimas já efetivaram registros de ocorrência policial nos estados do RS, SC e SP, o que significa que a maioria das vítimas ainda não efetivou a devida e necessária comunicação policial. Salienta-se que o registro de ocorrência policial é um valioso instrumento de prova para a devida responsabilização criminal dos golpistas, possibilitando, ainda, o ressarcimento mais rápido e efetivo das vítimas.

A Polícia Civil do RS esclarece que o registro de ocorrência pode ser feito pela Delegacia On-Line:

www.delegaciaonline.rs.gov.br

Fonte: Assessoria de Imprensa da Polícia Civil