Enchentes podem agravar doenças infecciosas; especialista explica como se proteger

Enchentes levaram várias pessoas a ter contato com água possivelmente contaminada – Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini

As enchentes que atingem o Rio Grande do Sul deixaram diversas cidades e comunidades inundadas e levaram milhares de pessoas a ter contato com água contaminada. Esse contexto leva a possibilidade de um desastre biológico, caracterizado pelo aumento do caso de diferentes doenças infecciosas. Em entrevista à Rádio São Luiz FM 100.9, a professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Melissa Markoski, explica mais detalhes sobre esses riscos e como se proteger.

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De acordo com a especialista que possui pós-doutorado em Imunologia, o contato das pessoas com a água insalubre aumento o risco de proliferação de doenças associadas a bactérias e vírus, além de facilitar a disseminação por vetores como mosquitos e ratos, entre elas a leptospirose. “Se a pessoa estiver apresentando ferimentos, cortes e se expor a essa água, isso facilita a entrada da bactéria no corpo da pessoa”, explica Melissa, que ministra aulas e trabalha com biossegurança.

Outra preocupação é com relação à ingestão de alimentos contaminados, o que pode levar a quadros de hepatites, além de provocar diarreia e vômitos. “Algumas outras infecções também que podem se propagar com relação a enchentes são: dengue e zika, doenças transmitidas por mosquito, que tem disponibilidade de água parada para colocar os ovos e se proliferar”, descreve a professora da UFCSPA.

Em relação aos cuidados, Melissa aponta a busca por evitar o contato com água e, se for o caso, usar equipamentos de proteção como luvas e botas. No caso da tragédia que o RS atravessa, a especialista lembra que a maioria das pessoas não teve como tomar esses cuidados, sendo assim, é preciso prestar atenção a possíveis sintomas, como cortes na pele e dores no corpo.

Além disso, não consumir água e alimentos com aparência ou odores estranhos é uma forma de se proteger. A higienização de roupas e móveis que tiveram contato com a água é muito importante, no entanto, a especialista alerta que no caso de materiais que tiveram contato, por exemplo, com animais mortos ou água de esgoto, o descarte é o mais recomendado. A pesquisadora ressalta também que a água que vem das torneiras é segura e passa por controle de qualidade.

Prevenção para o futuro

Durante a entrevista, a professora Melissa Markoski comentou sobre as ações que cabem ao poder público diante do desastre. Segundo ela, a primeira necessidade é o investimento em sistemas de drenagem da água e saneamento básico, em especial, nas áreas alagadas. De acordo com a especialista, é essencial elaborar “um planejamento urbano mais adequado para resistir à questão das enchentes. Pensar quando for feito planejamento de reconstrução daquelas áreas que foram perdidas em ter esse apoio à população, principalmente os grupos vulneráveis”.

Melissa destaca ser vital evitar a construção em áreas de risco, uma vez que o Rio Grande do Sul deve enfrentar desastres cada vez mais intensos e frequentes, em virtude das mudanças climáticas. “São pontos bem importantes para a gente considerar e pensar que essa infraestrutura, se for bem planejada, ela também vai auxiliar na prevenção de riscos a doenças infecciosas”, finaliza.

Confira a entrevista na íntegra:

Fonte: Rádio São Luiz