Ferrovias são utilizadas para a exportação agrícola e necessitam de investimentos públicos para se desenvolverem no país

Confira nesta reportagem dados sobre estrutura ferroviária no Brasil e no Rio Grande do Sul e como ela pode ajudar no escoamento de grãos

foto colorida de ferrovia

Ferrovias possuem potencial a ser explorado no país – Foto: Martin Winkler/Pixabay

O Rio Grande do Sul possui um território superior a muitos países da Europa e quase equivalente ao Equador na América do Sul. Um estado que é caracterizado pela força da produção agrícola. Estimativas da Emater/RS Ascar apontam que, na última safra de verão 2022/2023, foram produzidas 24,73 milhões de toneladas de grãos no estado, sendo a maior parte 14,16 milhões de soja, em uma área plantada de 6,51 milhões de hectares.

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Segundo dados do Censo Agropecuário de 2017, disponíveis no Painel do Agronegócio do Rio Grande do Sul de 2022, existem mais de 365 mil estabelecimentos agropecuários no estado. Ainda de acordo com informações do painel, em 2019, a agropecuária representou mais de 50% da atividade econômica para 68 municípios gaúchos e mais de 30% em 268 deles.

Nesse mesmo ano de 2019, a produção agrícola gaúcha totalizou R$36,3 bilhões para a economia brasileira. Tanta produção, pessoas e economias envolvidas demandam uma estrutura de escoamento adequada e preparada para levar os grãos das propriedades até seu destino final.

A situação do modal ferroviário no país e no estado

A primeira ferrovia brasileira foi inaugurada em 1854, no Rio de Janeiro, muitos anos depois do decreto que estabeleceu a construção de uma linha que ligasse os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Bahia, em 1835. Ao longo dos anos, o malhal ferroviário foi expandido até atingir a atual extensão de aproximadamente 30 mil km, número pequeno, em relação aos 8,516 milhões de quilômetros quadrados do território nacional.

No Rio Grande do Sul, assim como no resto do Brasil, a forma mais tradicional de escoamento da produção se dá através das rodovias. Dados do Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul indicam que a malha ferroviária representa 6% dos transportes no estado, isso considerando todas as formas de locomoção, tanto de bens, como de pessoas. No país, esse percentual também é tímido, representando apenas 17,7%.

O Rio Grande do Sul possui 3.259 km de ramais ferroviários, dos quais quase metade, 1,5 mil, estão desativados ou suspensos. A empresa responsável pela operação desse modal é a Rumo Malha Sul, que também opera ferrovias em Santa Catarina, Paraná e uma pequena parte de São Paulo.

mapa do rs com os ramais de ferrovias

Mapa mostra as linhas ferroviárias do estado – Fonte: Atlas Socioeconômico do RS

Em 2021, o sistema ferroviário brasileiro passou por mudanças para estimular investimentos privados no setor, principalmente, em trechos não utilizados e com a possibilidade de construção de novas ferrovias em um modelo de autorização de exploração. O novo marco das ferrovias foi aprovado através da lei n° 14.273/2021.

Apesar de possuir um grande potencial inexplorado em um país continental, como é o caso do Brasil, e em um estado de grandes proporções territoriais, como o Rio Grande do Sul, as ferrovias possuem significativa relevância em termos de escoamento da produção agrícola. Confira nesta reportagem mais dados e informações sobre como o modal ferroviário é utilizado para levar grãos das propriedades rurais até os portos.

As ferrovias e o caminho da safra

Estudos realizados pela Embrapa na safra de 2015/2016 mostram que as ferrovias possuem importante papel no transporte de cargas para os portos no país, ou seja, quando se trata da exportação de grãos, as ferrovias são responsáveis por aproximadamente 20,7% da carga agropecuária transportada. Dados que se mantêm neste mesmo patamar, segundo especialista da área. 

De acordo com o supervisor de gestão territorial estratégica da Embrapa Territorial, de Campinas (SP), Rafael Mingoti, quando se trata de escoamento de grãos é necessário levar em consideração o destino dos produtos. “Temos produções que vão para o centros urbanos nacionais e que vão para nichos específicos”, explica.

Existem alguns produtos consumidos em regiões próximas ou dentro da mesma região, os quais, exigem uma lógica de micrologística, que é majoritariamente feita por meio de rodovias. Outros produtos são produzidos para serem levados a outras regiões do país ou mesmo para fora do Brasil, neste caso, tanto rodovias, como ferrovias e hidrovias são utilizadas.

O Sistema de Inteligência Territorial Estratégica da Macrologística Agropecuária Brasileira, criado pela Embrapa, analisa dados sobre a produção agropecuária, a exportação, os caminhos da safra e as bacias logísticas do país. Em relação ao Rio Grande do Sul, Rafael Mingoti afirma que existe um equilíbrio no escoamento, graças aos espaços de armazenagem de grãos.

Em geral, na maior parte do Brasil, a produção vai direto da propriedade aos portos. “No Rio Grande do Sul é um pouco diferente, com regiões que têm grandes cooperativas, com grandes capacidades de armazenamento, então a produção vai da propriedade para a cooperativa, depois para o porto e o destino final”, detalha Rafael Mingoti.

Segundo o especialista da Embrapa, em 2015, o Porto de Rio Grande recebeu cerca de 14 mil toneladas de grãos, sendo 42% por rodovia; 11% por hidrovia e 47% por ferrovia, o que representa o ideal em termos de distribuição da carga entre modais de transporte. Um dos grandes desafios para expandir o uso das ferrovias em outros setores, que não o da exportação e para mais regiões, é a necessidade de investimento público.

Apesar do modelo atual estabelecer a concessão das ferrovias para a iniciativa privada, que cobra pelos fretes para manter as estruturas, sem o apoio público, o custo de manutenção das ferrovias se torna um empecilho. Isso acontece, conforme Mingoti, por conta do modal ferroviário não ser tão popular. 

O especialista explica que, no caso das rodovias, a manutenção é facilitada por conta do alto número de pessoas que utilizam, o que possibilita seu financiamento por meio da cobrança de pedágios. Já para as ferrovias e hidrovias a situação é diferente, pois não são meios utilizados para o transporte de pessoas.

“A iniciativa privada por si não tem como manter rodovias, ferrovias e hidrovias, isso tem que ser dividido com a sociedade e para isso, ela precisa estar em desenvolvimento, porque existem setores mais importantes, como saúde, educação e segurança, antes da infraestrutura de escoamento”, afirma Rafael Mingoti.

O número de estruturas de armazenagem e a manutenção e desenvolvimento dos portos também são mencionados como pontos importantes pelo supervisor da Embrapa Territorial. “Isso ajuda muito, porque desafoga aquela imensidade de caminhões nas rodovias; e o porto, que precisa de desenvolvimento para receber e exportar as cargas”, acrescenta Mingoti.

Fonte: Rádio São Luiz com informações do Painel do Agronegócio 2022, Embrapa Territorial e Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul.

Por Micael dos Santos Olegário