Paulo Pires avalia colheita do trigo e cenário econômico da agricultura regional

Foto: Canva/Ilustrativa

O presidente da Coopatrigo e da Fecoagro/RS, Paulo Cezar Vieira Pires, concedeu entrevista à Rádio São Luiz na manhã desta quarta ferade 5 de novembro de 2025, analisando o andamento da colheita do trigo, a conjuntura econômica da agricultura regional e as perspectivas para o próximo ciclo produtivo. Segundo ele, a colheita do trigo em 2025 já ultrapassa 60% da área, com 1.051 produtores entregando o grão em todas as unidades da cooperativa. A produtividade média registrada é de cerca de 50 a 60 sacas/ha, com variações de acordo com o nível tecnológico empregado.

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Pires destacou que o preço atual do trigo gira em torno de R$ 60,00 no porto, com cotação próxima de R$ 58,00 na cooperativa. O valor representa cerca da metade do que foi praticado no período de alta de 2022, quando a saca chegou a ultrapassar os R$ 120,00. Conforme o dirigente, o custo de produção permanece elevado, sem redução significativa dos insumos, o que provoca forte impacto na renda do produtor. Ele estimou que a rentabilidade média da cultura atinge cerca de R$ 3 mil por hectare, valor considerado insuficiente para cobrir as despesas da lavoura.

Em comparação com o trigo, a canola tem apresentado maior viabilidade econômica. Com preços próximos de R$ 140,00 por saca e menor custo de produção, a cultura oferece rendimento bruto cerca de 30% superior ao do trigo. A tendência, segundo o presidente, é de expansão significativa da área de canola e redução acentuada da área de trigo no próximo ano, caso o quadro de preços se mantenha.

O dirigente também abordou o impacto da taxa de juros, atualmente entre as mais altas do mundo. Segundo ele, não há atividade agrícola capaz de sustentar uma taxa de 15% ao ano, o que dificulta o financiamento das safras. Além disso, Pires avaliou que o cenário político e eleitoral tende a manter pressão sobre os preços dos alimentos, o que desestimula a valorização dos produtos agrícolas.

Em relação ao setor orizícola, Pires apontou que o arroz enfrenta uma das situações mais críticas do Estado, agravada pela importação sem taxação de países do Mercosul, como Uruguai e Argentina. Ele destacou que, mesmo após a duplicação do engenho da Coopatrigo, há queda no volume de beneficiamento devido à redução da produção e ao desestímulo econômico. O leite, segundo ele, segue trajetória semelhante, com preços em queda e dificuldades crescentes para os produtores.

Sobre as condições climáticas, o presidente relatou que a previsão indica possibilidade de chuvas de até 100 milímetros na região, o que poderia prejudicar lavouras de milho e trigo ainda não colhidas. Pires explicou que, embora o fenômeno La Niña tenda a reduzir o volume de precipitações, o maior desafio é a distribuição irregular das chuvas. Destacou ainda o avanço do uso da irrigação, que já abrange cerca de 15% da área de verão na região de atuação da cooperativa.

Além das questões produtivas, o presidente mencionou as ações comunitárias apoiadas pela Coopatrigo, como a reconstrução da sede da Associação Ferroviária, danificada por vendaval, e o apoio financeiro à reforma da recepção do Hospital São Luiz Gonzaga. Pires ressaltou que as melhorias foram executadas em parceria com empresas locais e que a cooperativa aguarda um momento oportuno para a inauguração oficial da obra.

Ao tratar do cooperativismo estadual, enquanto presidente da Fecoagro/RS, Pires comentou as dificuldades enfrentadas por algumas cooperativas, como a de Ibirubá, e destacou a importância da confiança e do pertencimento como pilares da sustentabilidade do sistema. Ele defendeu a união entre setor público e cooperativas na busca por novos investimentos, citando como exemplo o projeto de instalação de uma indústria de etanol a partir do milho, voltada a agregar valor e garantir liquidez à produção local.

Por fim, o presidente afirmou que, apesar da crise de rentabilidade no campo, a Coopatrigo mantém solidez e compromisso com o desenvolvimento regional, reforçando a função social do cooperativismo em equilibrar o resultado econômico e o interesse coletivo.

Fonte: Rádio São Luiz