Dia Mundial do Meio Ambiente tem como tema o combate à poluição plástica: rios e mananciais estão entre os mais afetados

Saiba mais a atuação da API, associação que procura preservar os rios da região e também o que um especialista alerta sobre o tema em um ano de provável El Niño

Foto colorida do rio Inhacapetum ao pôr do Sol

Rio Inhacapetum possui águas limpas e abriga diversidade de peixes – Foto: Divulgação/API

Nesta segunda-feira, 5 de junho, é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente. A data foi estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de conscientizar as pessoas sobre a importância de preservar o meio ambiente e a natureza, tanto para evitar o esgotamento dos recursos naturais, como para evitar a perda de biodiversidade.

Neste ano, o tema escolhido para a data é o combate a poluição plástica. De acordo com estimativas da ONU, mais de 400 milhões de toneladas de plástico são produzidas por ano no mundo, grande parte disso acaba em oceanos, rios e mananciais. Por isso, a preservação dos rios, a coleta seletiva e o reaproveitamento do lixo são aspectos essenciais para o combate à poluição plástica e o cuidado com o meio ambiente.

Na região das Missões, os rios e mananciais possuem grande importância para as comunidades ribeirinhas e para a qualidade de vida de várias pessoas. Além disso, os cursos de água abrigam uma variedade de peixes e biodiversidade. A Associação Preserva Inhacapetum (API), criada em 2021, procura estimular o cuidado com os rios e com a natureza.

O papel da API na preservação ambiental

A associação tem como foco a preservação do rio Inhacapetum, curso com aproximadamente 120 km de extensão, que nasce em Tupanciretã e que passa pelo Capão do Cipó e São Miguel das Missões para chegar no Rio Piratini, em Bossoroca. O rio em forma de caudas possui água límpidas e abriga diversas espécies de peixes como: dourados, piavas, traíras e cascudos.

A API conta com diversos membros da comunidade local e um conselho fiscal, formado por pessoas preocupadas com a causa ambiental. Atualmente são cerca de 50 sócios que ajudam a manter as atividades da associação, que não possui fins lucrativos. Recentemente, a entidade também passou a integrar o Comdema de São Miguel das Missões. 

O presidente da API, João Luis Furtado, comenta que a presença dos animais é prova da oxigenação da água e da qualidade da água no rio Inhacapetum, o que motiva a preservação. “O rio está até em boas condições, mas queremos entregar para nossos descendentes o que recebemos de nossos ancestrais”, afirma João Luis.

Foto colorida do presidente da API, João Luis, soltando peixes no rio Inhacapetum

João Luis é um dos responsáveis pelas atividades da API – Foto: Divulgação/API

Segundo o professor de Agronomia da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), Rafael Meirelles, o cuidado com os rios é essencial para prevenir o assoreamento em épocas de seca, e as cheias e inundações nos períodos de chuva. 

O professor explica que toda interferência em cursos de água pode gerar um efeito em cadeia, afetando a biodiversidade, gerando perda de água e secando a região. Se você muda um rio ou constrói uma barragem, essa água vai faltar em algum lugar”, aponta o especialista. Meirelles explica que práticas agroecológicas e de proteção ambiental das nascentes podem ajudar a recuperar regiões que perderam suas qualidades e evitar problemas socioambientais.

Entre as ações da API que se relacionam com essa preocupação está a realização de campanhas de conscientização sobre a retirada de água dos rios, em especial, em momentos de estiagem. “A irrigação, nós sabemos, ela é legal, tem outorga, mas pensamos que deve ser feita de uma forma racional, não podemos agredir os rios”. João Luis também é produtor rural e destaca que a agropecuária e a preservação ambiental devem andar lado a lado. 

O repovoamento de peixes nativos, realizado com o apoio das prefeituras de Bossoroca e São Miguel das Missões, é outra prática da API. “Já soltamos cerca de 10 mil alevinos das espécies nativas aqui da região: dourado, piava, piracanjuba, jundiá, grumatã, para que a gente tente o repovoamento”, descreve o presidente da associação. Além disso, são feitas atividades de replantio de mudas em áreas degradadas a partir de levantamento e solicitações das pessoas.

foto colorida de membros da API soltando alevinos no Rio Inhacapetum

Soltura de alevinos no rio é uma das ações da associação – Foto: Divulgação/API

Preocupação com o El Niño e a educação ambiental

Ainda com relação à questão ambiental e aos rios, em 2023, previsões do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), indicam a possibilidade do fenômeno a partir deste mês de junho. Apesar de ser um fenômeno natural, causado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico, o El Niño pode ser agravado pelas mudanças climáticas e demanda políticas de prevenção aos seus efeitos.

No Rio Grande do Sul, a tendência é de um inverno com chuvas mais intensas, o que pode afetar de outro modo a produção rural. “Uma chuva de grande intensidade tem uma gota muito grande, então mesmo no meio rural tem impacto, porque é muito mais erosiva”. Outra consequência disso é o aumento dos níveis dos rios e enchentes mais severas.

A cobertura vegetal do solo das áreas rurais, em conjunto com a preservação das matas ciliares dos rios são citadas por Meirelles como alternativas para diminuir o impacto do El Niño na região. No caso de enchentes, o cuidado com o lixo também deve aumentar, uma vez que os grandes volumes de chuva podem gerar ainda mais poluição para as águas.

Nesse aspecto, João Luis Furtado defende também a participação mais efetiva das prefeituras na formulação de políticas públicas de separação e coleta seletiva do lixo. “É uma ação importante para preservar o nosso meio ambiente, e quando falamos de barrancas dos rios, as pessoas respeitarem, não deixar lixo seco e garrafas, porque vem a enchente e leva tudo para dentro do rio”, explica ele.

O professor Rafael Meirelles afirma que a educação ambiental é um dos pontos chaves para a preservação do meio ambiente. Opinião que é compartilhada por João Luis, segundo ele, a API realiza palestras em escolas “para que as pessoas saibam da nossa ideia e dos nossos propósitos de preservação”. Atualmente, as palestras são feitas em escolas de São Miguel das Missões, mas a intenção é expandir para outros municípios da região.

Para finalizar, João Luis ressalta a importância de cada pessoa refletir sobre o seu papel na preservação do espaço onde vive. “Penso que estamos no caminho certo, dando os primeiros passos, mas já estamos fazendo algumas ações importantes, ou seja, não vamos ficar parados”, afirmou o presidente da API.

foto colorida do rio inhacapetum ao pôr do Sol

Preservação passa por conscientizar pessoas sobre importância das ações de cada um – Foto: Divulgação/API

Por Micael Olegário

Fonte: Rádio São Luiz